quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

TEXTO INACABADO, apenas iniciado, SOBRE 2014


(algum dia do início dezembro deste ano)

AQUI SENTADO NA PRAÇA RUI BARBOSA, pensando no ano que passou.

Santo André, 17h18 minutos, ouvindo as cinco músicas que considero audíveis de Memórias, Crônicas e Declarações de Amor, da Marisa M. Penso apenas que quase o ano todo já passou, quando um cachorro enorme, do tamanho de um rottweiler, vem cheirar meu tênis, minha calça – deve ser o cheiro dos cachorros das Ong, devo acabar o ano cheirando a cachorro. Ok, é um cheiro bom de abraçar. Há pouco vira o mesmo cachorro correr atrás do seu dono de bicicleta, mancava o cachorro, pensei que poderia estar com a pata machucada, mas então ele para e caga. Penso então onde deixei minhas merdas ao longo do ano e se alguma ficou por aí visível, ah, foram poucas e quase doces, próximo a merda a qual me mantive atado nos últimos cinco anos, até abril. A merda que teimava em caminhar junto ainda existe, e continua a adornar os ricos doces e massas mooquenses.
Então passei a caminhar com os cachorros. Com gatos, chinchilas, porquinhos da índia; camundongos, galos, galinhas e pombos. E veja só, os pombos são ‘buona gente’, assim como as pessoas com as quais estudei este ano na ELT. Agora, entro na escola...

(31 de dez. de 2014)

Como o texto ficou inacabado, acabo de tirar uma foto no meu banheiro , meio que finalizando-o e desejando tudo de bom para 2015, ou melhor, para mim e para esse tal de 2015.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Primeiro



Estudava na Monteiro Lobato, em Higienópolis, ao lado da praça Buenos Aires. Gostava de andar por cima do muro que subia em escala e ladeava o parque – subia até quase ficar alto demais, quando pulava. O gradil da parte de trás do jardim da escola dava para a praça, onde há aquela estátua de mãe embalando o filho - "Mãe" de Caetano Fraccaroli, é assim que chama ela, pesquiso agora. O gradil era ponto de encontro de quem queria lanchar amora colhida direto do pé, que ficava na praça: esticava-se o braço e colhia-se o lanche ou sobremesa do que já estava na lancheira. Minha lancheira tinha sempre um suco e um sanduíche, fruta que não amora também. E nem morangos. Mas lembro de uma menina que achava muito simpática, e não sei se porque ela parecia a Moranguinho ou porque tinha tudo da Moranguinho, pra mim até hoje ela é a Moranguinho.  E tinha uma outra menina simpática da qual todo mundo era amigo e eu achava que ela deveria falar mais comigo porque nossos mães eram amigas.
Agora escrevendo me lembro de várias outras pessoas, de uma professora, do dia da fila para pegar presente do Papai Noel – diferentemente dos desenhos, o Papai Noel era preto, e achei isso uma grande descoberta. Lembro dos armários no corredor e dos pinos de pendurar as mochilas – lembro que a minha mochila preta do bolso vermelho (ainda a tenho) era igual a de uma menina da minha sala chamada Mônica, e não sei se por isso, mas sempre na hora da chamada quando a professora falava ‘Mônica’, eu corria a levantar a mão e dizer ‘Presente!’. Era teste dificílimo a chamada, precisava ficar muito atento para não seguir respondendo errado. Ah, e me lembro de uma cobra sanfonada que fizemos e pouco me lembro de outros desenhos – minha mãe jogou todos fora quando eu tinha sete anos e resolvi inaugurar um museu no meu quarto, picotando todos e colocando em retalhos pelas paredes, armários e porta do meu quarto, sendo eu a obra principal, uma estátua no meio do quarto, em cima da cama. Fiz isso com a ajuda de uma menina chamada Amanda, que eu não sei filha de quem é, de onde veio, mas lembro que dormimos na mesma cama, um com a cabeça para cada lado, porque ela tinha piolho, coisa que até hoje, apesar do muito cabelo, nunca tive.
Ah, meu cabelo crespo era de lida difícil em casa, porque era eu o único em casa de cabelos crespos. Então minha mãe penteava-o até não sobrar nenhum fio enrolado – estilo Bombril. Como eu usava os xampus e condicionadores para cabelos lisos, os fios secos e poucos enrolados tinham esse estilo mesmo.
Outras coisas me lembro: das folhas de palmeira que caiam no pátio-jardim íngreme e das crianças que se arriscavam a descer a ladeirinha sendo puxadas a toda velocidade dentro da folha – acho que fiz isso uma vez também, mas o meu maior acidente foi dentro do trenzinho que ficava no grande tanque de areia. Caí em cima de uma pedra que deixou meu joelho em carne viva.  Eu me lembro de um menino chamado Gustavo, que anos depois reencontrei no Fifi e com o qual eu brigava para ficar na frente na fila indiana, que era sempre ordenada em escala crescente de estatura e nós, os mais altos da mesma altura, detestávamos ficar por último.
Me lembro que odiava o meu nome porque era difícil de escrever e era preciso explicar como se fazia – sempre fui de falar pouco. Eu queria me chamar Felipe. Ou melhor, Philipe – que li em algum lugar e achava mais fácil de escrever. Mas comecei a escrever tudo isso depois de ler a matéria aqui embaixo, o que me fez lembrar do Alan – ou Allan, um menino que estudava nesta escolinha e que eu sempre ficava muito feliz em ver e pelo qual eu pedia para minha mãe mudar de caminho na ida para casa, assim passávamos em frente ao prédio dele – não me lembro como sabia que era o prédio dele, mas lembro que esquecia a calçada e passava em frente olhando para cima. E já ficava feliz. Ele tinha um cabelo ridiculamente liso e preto cortado como se sob uma tigela e usava a mesma roupa que usávamos todos nós: camiseta branca, short curto vermelha, meia branca e Conga ou All Star vermelho. Ele foi o primeiro e acho que até hoje fico meio bobo como dessa vez, mais de vinte anos aqui do lado.

A matéria aqui embaixo:
http://www.brasilpost.com.br/Amelia/meu-filho-de-10-anos-gosta-de-meninos_b_6347856.html

domingo, 21 de dezembro de 2014

EM TRÂNSITO


Volto olhos pra dentro
Vagão, sua luz é fria
Os olhos aqui não se olham
Volto olhos dentro
E olhos não vejo
Conversas não ouço
Estão transcritas em telas gorilla glass.
Vento que entra pela janela
E me enrosca os fios de cabelos nos óculos
É o que sinto vivo aqui.
Saio.
Escada rolante,
Subo.


(barra funda, 19.12.14)

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Breve, sobre símbolos de fé

O kippah e as guias branca e vermelha e preta, lado a lado no metrô. E assim deuses, saberes, lendas, crenças, formas de fé em diálogo mudo neste vagão.

13/11/14, SP, entre as estações Anhangabaú e Sé, uma breve reflexão.

sábado, 8 de novembro de 2014

Chove

São essas poucas ruas de todos os dias à noite, quando desço do ônibus rumo a minha casa e pouquíssimas horas de sono, é, nasci pra não dormir - ou só dormir aos sábados e domingos, quando às vezes nem o sol me acorda. Um gotejo de chuva e outro e mais outro, esses gotejos que antecedem a chuva propriamente dita, que desabam das nuvens sem pressa da queda no asfalto. 
Caminho seguindo uma briga, duas garotas, parecem um casal, brigam encostadas no muro, e uma outra galera, que só reparo depois, tenta apartar a briga de dois garotos - lá dentro da casa, late o cachorro que certamente foi convidado a ficar preso na lavanderia durante a festa. Passo e o meu passo é apressado, deixando meu olhar curioso lá neste lugar que não me interessa.
E corro rua adentro, rua que na curva é outra, onde corro e curva outra, a rua da praça, minha rua, onde esqueço o medo de escorregar, porque medo é uma avaria que machuca o brincar. Brinco de correr na água que cai depressa da nuvem, em quantidade, com a nuvem que quer se enxugar molhando tudo embaixo. 
Observação: Não corro da chuva, estou correndo com a chuva e achando graças entre eu, esses poucos metros e o meu portão.

Perus, São Paulo, entre duas e três da manhã do sábado oito de novembro de dois mil e quatorze.

domingo, 2 de novembro de 2014

Para Deus e Esperança





Tenho estado essa coisa assim um tanto melancólica desde ‘miados’ de junho, meio soturno como os gatos, mas ainda sem a coragem das grandes alturas e caminhos das tortas beiras. Tenho sido sim essa coisinha um tanto chata de riso difícil, meio ‘ai, que fossa esse cara’, ou pior ainda ‘ai, por que chamamos ele pra sair?’, não digo que estas falas são suas, na verdade são minhas quando olho para mim mesmo e já um tanto cansado do que me vejo, me bombardeio na falta de inimigos que o façam – e se fosse guerra essa batalha, é, talvez eu já entrasse nela de armas abaixadas, mas por sorte é só esse lance de vida, que é complicado mesmo, acontece assim que saímos de nossas mamães.


Mas a fossa não é toda merda, na verdade tem sido parte estudo e produção e crescimento – e a outra grande parte, vazio. Pergunto-me se não seria melhor se fosse merda. Vazio remete a essa coisa de inércia que tanto me sufoca, mas da qual cada vez mais, tenho que admitir, tem sido difícil de lado deixar. Às vezes apenas me entrego e depois que o tempo passou e nada aconteceu, me vejo com certo medo da coisa que sou. De como ‘coisifico’, ‘causifico’, emudeço, um tanto de mim. Tenho certo receio desse período de férias que se aproxima e do quão pode aumentar essa estada do vazio. Enfim, são pensamentos sobre mim, desculpa.


Só queria dizer que hoje ri um riso verdadeiro – que confesso só ter acontecido ultimamente na ELT, este lugar no qual entro conseguindo deixar um eu inerte do lado de fora da porta. E já fazia tempo que eu não ria sem um compromisso que pareço ter assumido com esse tal estado nulo ou igual de forças que tomam esta forma atual de mim, rir sem medo da tal forma de angústia (sim, aconteceu logo em seguida), esquecendo qualquer pedaço de mim que pudesse estar mais gasto ou fragilizado. E confesso que nem mesmo a Guarapiranga de margens lodosas encolhidas teve força para abalar o riso frouxo e sorrir, agora, o auge do brega, AQUELE SORRISO QUE VEM DE DENTRO, que durou ali, aquelas horas da manhã deste sábado, mas revitalizou o agora, aqui no quarto, antes de assistir um filme ou simplesmente dormir, e digo obrigado por ter ficado como na foto aqui embaixo do texto, uma feliz verdade.


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Riso ladeira abaixo (em Perus)


Perus como vejo da janela do quarto.

Segunda-feira, entre seis e quarenta e sete da manhã. Desço a ladeira para pegar o trem - acordei atrasado e não chegaria a aula na FEESP às nove se fosse de ônibus. Um senhor atravessa a rua em minha direção, rosto marcado, de sol a pique sem protetor solar, sotaque nordestino, um tanto incrementado de um paulistanês de certamente muito tempo de contato, um riso doce e ao mesmo tempo incrédulo. Está com o Jornal Agora na mão e me para e me diz o que está escrito aqui?, era o cantinho esquerdo da primeira página. Penso que deve não saber ler e leio em voz alta o título da matéria Nordestinos são atacados nas redes sociais. Fica claro que ele apenas queria compartilhar o que acabara de ler quando me aponta um trecho da matéria que diz Nordestino burro, vota na Dilma e aí vai para São Paulo em busca de uma vida melhor? Termino de ler a frase em voz alta, ele não comenta, mas ri um riso indignado, não amargo, mas doce como quem sabe-se superior a essa  pequenez de pensamento que permeia alguns de nós. Eu, tento o mesmo riso-doce-indignado que o dele, mas não consigo.

domingo, 19 de outubro de 2014

Sábado e hoje





Ontem precisava escrever, tirar o atraso do texto que às vezes me sufoca, por expectativas minhas de fazer direitinho, de corresponder a uma proximidade do real que pesquiso, enfim... Então, como preciso me centrar em escrever, acordei tarde, arrumei meu quarto, lavei minha roupa, me alimentei várias vezes ao longo do dia - mas com certa moderação -, tomei banho, guardei minha roupa lavada, passei o que estava muito amassado e também guardei. Achei que não tinha sentido limpar meu quarto e deixar o corredor na frente sujo então limpei também. Liguei o computador e li todas as notícias que me despertaram curiosidade - e sempre uma te leva a outra. Marquei com algumas pessoas de ir a um show hoje, que não sei se vou, e abri o word com o que já havia da Vida, o texto em questão. Li, reli e nada mais escrevi. Ouvi músicas, ensaiei começar qualquer novo rascunho e nenhuma linha nova surgiu. Resolvi que a coisa estava mecânica em excesso na frente do PC e salvei o texto no meu leitor digital, abri rascunhos perdidos em diversos cadernos sobre a cama e peguei outras folhas muitas para fazer rascunho. O sono chegou beirando às quatro da manhã, quando nada ainda tinha feito.
Então hoje, ao acordar meio-dia e em seguida tomar café, decidi que continuaria com a carpintaria da escrita. Listei as cenas que faltavam ser escritas, ordenando-as na ordem que imaginava ser a correta e passei a escrever uma a uma, dando baixa com um OK na listinha posta de lado. O trabalho rendeu bastante e agora já às cinco da tarde olho para o relógio do PC que acabo de ligar e estranho o sol ainda tão a pino e lembro que é o primeiro dia de horário de verão. A pouco meu pai e minha mãe acho que brigaram na cozinha e ela subiu as escadas gritando 'não dá para ficar com esse cu na cozinha'. Não entendi se falava com meu pai ou com o cachorro, mas depois entendi que era com o meu pai. Resolvi ignorar porque não sou casado com nenhum dos dois. Bem que eu queria ir na casa da Fêr e do Danilo tomar vinho e comer queijo, bem que eu queria realmente ir ao show que terá hoje no Ibirapuera, tudo depende de eu agora conseguir colocar todo o texto escrito no computador, corrigir, tomar banho e sair. Mas restam só duas horas e ainda tem exercícios da aula de amanhã na federação pra entregar e o trem da CPTM não está passando hoje, como em todos os domingos. Talvez tenha que terminar aqui em casa mesmo, e talvez encontre algum filme que me distraia desse momento em que me encontro... acho que estive bem neste fim de semana porque esqueci um pouco de mim e resolvo começar a próxima sexta no jongo ou em qualquer outro lugar me entorpecendo com qualquer coisa alcoólica.
Resolvo que vou pedir para a Fêr me ligar - a Oi bloqueou meu celular, apesar da minha conta estar paga - e pedir para dormir na casa dela. Só para dormir num lugar diferente, longe daqui, ou mais longe de mim.

domingo, 10 de agosto de 2014

Da sacada na Vila Mariana

Olhar perdido,
Que não encontra
Derradeiro caminho
De olhar perdido.

domingo, 3 de agosto de 2014

29 de nov. de 2009

Domingo é um dia no qual posso ver pouco a pouco o sol invadindo a janela do meu quarto. Ele não se acanha em nenhuma fresta. Ilumina o pouquinho que dá, até me convencer a levantar. 'É dia de folga, mas o que adianta se você for ficar deitado?', ele me diz. Concordo e levanto para um domingo de preguiça. Melhor dizendo, um domingo sem compromisso com o relógio. Muitos domingos pela frente, se Deus quiser.

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(Agora, 2h59min, 3 de ago. de 2014, abrindo a janela para amanhã o sol me acordar.)

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Entre o Terminal Lapa e a Praça Cornélia

As janelas do ônibus estão tão sujas que mal vejo a cidade. O que caiu de água, coisa pouca, chuvisco, dia desses, fez mancha na poeira acumulada e fez desenhos, bolinhas, em toda vista suja. São dez centímetros que consigo abrir e fazem do cinzento que embaça  breve vista que fica, ou que caminha. Ninguém corre agora de manhã. Nem as conversas dos que se encontram, nem o tempo que nos acha, nem a sujeira que embaça as janelas.

domingo, 20 de julho de 2014

Que Não Lhe Conto... este domingo!

A FALTA

Passei o dia perdido sobre o que fazer, perdido sobre o que fazer primeiro, o que deixar para depois e me cansei de tanto nada fazer, perdido em ideias que não se concluem. Ontem não foi diferente, mas muito de ontem tem a ver com as coisas daqui de casa, essas coisas de sempre, de pai e mãe, das paredes e tudo que há dentro.
Hoje, quase cinco da tarde, tomo banho. Me visto com a mesma roupa que me vesti ontem pra sair e logo em seguida tirei porque decidi ficar, bebo café com pão e manteiga, carrego a bolsa de livro, agenda, carteira, garrafa d'água e os ingressos que comprei para ir ao teatro, pensando que a peça que veria seria uma - e ontem lendo a sinopse descobri que comprei os ingressos da peça errada que não parece nada interessante. Parece que Deus e Esperança também não irão, terão uma DR hoje.
Cinco e meia. Coloco comida para o meu cachorro e saio pela porta dos fundos. Atravesso o corredor, a porta da sala ficou aberta. Entro, tranco, volto para a porta de trás, destranco, saio e tranco de novo (não tenho a chave da porta da frente). Saio. Dois minutos andando, um carro de polícia, quatro policiais e três jovens. Um carro preto parado, os garotos de mãos para trás, talvez já algemados. Algumas pessoas olham pela janela, um outro carro de polícia passa devagar e sigo descendo essa ladeira infinita daqui de casa, Perus, esse bairro montanhoso. Se fosse na Itália seria um pequeno vilarejo de casas rústicas entre as colinas. Aqui é um bairro periférico de casas inacabadas, com uma vista muito bonita, mas sem cartões postais.
Cinco e quarenta e estou no ponto. Penso que a Fernanda pode estar num casamento chato - ela iria em um hoje, por isso não lhe comprei ingressos; certamente irá atender o telefone. Não atende. Espero o ônibus cinco minutos e começo a me perguntar o que estou fazendo ali, saindo de casa em cima da hora para ver uma peça chata quando tem uma muito melhor acontecendo perto do metrô Carrão. Se não dá para chegar no Anhangabaú, muito menos consigo chegar no Carrão. E se chegar no Anhangabaú, correndo, esbaforido para ver uma peça que não me parece boa... para que construir esse estresse? Pego a avenida no sentido contrário dos carros, entro na primeira rua, desço-a, passa o carro da polícia e pego o telefone para disfarçar - não que estivesse fugindo da polícia, mas às vezes quando alguém olha para mim pego o telefone e finjo que estou falando com outro alguém - e como a polícia sempre passa olhando... talvez tivessem olhado para o meu casaco de tecido quase vinil roxo que quase nunca lavo e minhas luvas de lã rasgadas e me achado estranho - se bem que acho que não olharam nada, mas não resisto e depois que o carro passa ainda continuo com o celular na orelha à toa (está frio, estava esquentando a orelha).
Chego em casa, um folheto de pizzaria. Subindo o escadão - esse bairro montanhoso! - havia pensando em pedir pizza e acho que é um sinal do destino sobre o meu jantar. Destranco as duas portas - a dos fundos e a da sala, onde meu cachorro estava dormindo no sofá. Subo as escadas, faço xixi e coloco o moletom e a camiseta que estava vestindo antes. Pego os ingressos na bolsa, rasgo, coloco no saco de coisas que tenho jogado fora e está atrás da porta. Penso que nos conhecemos - assim, de sentar e conversar, além de nos ver - num dia em que eu tinha acabado perder o horário de uma peça no CCBB para a qual tinha comprado ingresso uma semana antes. Agora escrevendo, lembro de alguns pensamentos que tive nesse dia e me perco de novo sobre essas coisas de tempo.
São seis horas e trinta e oito. Termino este texto e estou ligando na pizzaria.

sábado, 12 de julho de 2014

Perto de dormir

Hoje, danço
no frio, agasalho
em mim, You Tube
Meredith Brooks, Mazzy Star
Bitch,
Fade Into You, frio
E me banho - luz, ilusão!
Néon, lâmpada
no quarto.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Que Não Lhe Conto (27/06/14)

HOJE CARREGUEI COUVE

Hoje fui à feira pedir couve para os animais da ONG. Peguei duas caixas de papelão, não muito grandes e as enchi, com folhas de couve e brócolis em ramos tão bonitos quanto os postos sobre a banca à venda já na xepa - que bela salada no lixo.
Desci - antes subira - toda a Consolação até a General Jardim. Pensei em encostar na mureta do cemitério para descansar, mas concentrei-me em um exercício de conscientização corporal, caminhando sem parar para descanso, procurando meus apoios internos que maior conforto me davam (procurar confortos internos não é deixar de sentir a dor de carregar as caixas, é procurar uma forma menos dolorida de carregá-las).
Na ONG, guardei couve e brócolis em ramos na geladeira, bebi um copo de Pepsi - lembrei da amiga no apê e sua não-relação com a Coca-Cola - e fui embora, pensando que frango, galo, coelho e chinchilas teriam um fim de semana feliz e com muita verdura para comer.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Ontem Nick Assistia TV e Hoje Uma Chinchila Morreu



O pão que o distrai, ele, meu cachorro, Nick, não lhe faz pôr o nariz a farejo, nem correr com o olhar para mim, para o pão, que mergulho no café com leite. Não levo o pão a boca e este, molhado, meio mole, cai sobre o prato – ‘sorte, usei prato!’

Na TV, o trabalho da carrocinha, o menino chorando pelo cachorro apanhado, ‘ele terá grandes chances de ser adotado’ – diz o homem da carrocinha, o pit bull abandonado, ninguém leva os pit bulls, a venda dos pugs, yorkshires, valores de joias, e os outros, ali, três dias esperando alguém.

Nick assiste a TV. Nem presta atenção no pão caído no prato, nem focinho funciona. Na face canina que não é de expressões, olhinhos meio perdidos na tela da TV. Será que entende?

Hoje, limpando o cantinho das chinchilas no trabalho, ‘cadê elas que não saem?’, nem colocam o rabo pra fora da toca improvisada, caixa de relógio d’água. Abro a caixa. As três irmãs chinchilas agora são duas. A mais velha, Stella, estava caída, fria, e as outras duas, Florence, Ane, de um canto, olhavam.