sábado, 15 de novembro de 2008

Megero e O Divino


Foto: Ísis Lima
Arte (?): Ronny (eu)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A Revolta de um solteiro e a greve pela reabertura da Fábrica

A carta abaixo foi escrita por João Aparecido Maria:

São Paulo, 12 de novembro de 2008.

Foi com grave impacto no coração que recebi a notícia do fechamento da Fábrica de Adrianos, depois da produção de um único exemplar da espécie. Apesar dos comentários e burburinhos frenéticos nas portas de escolas, casas noturnas, centros culturais, parques e nos confins residenciais de boa parte do Brasil e num específico iglu islandês, teimei em descrer de tal fofoquice - cegamente, afinal nenhum novo lote idêntico fora produzido desde 1984. Os últimos utilitários produzidos com peças “parecidas” são MADE IN JAPAN, claro indício da formação de teias de aranha nos aglomerados uterinos da fábrica.
Já faz algumas semanas que as bolsas ao redor do mundo apresentam gradativa queda. Bancos fecharam e alguns bebês, tenebrosos com seu futuro matrimonial, recusam-se a nascer. Quinze médicos da Santa Casa de Misericórdia, aqui em São Paulo, foram internados com grave crise mental depois de verem bebês colocarem a cabeça para fora de suas mães gritando “daqui não saio, daqui ninguém me tira” e recolhendo-se novamente vulva adentro.
O noticiário de ontem revelou que um grupo de vacas e bois invadiu os trens da CPTM trajados unicamente de cartolas e exigem sua condução até a cidade onde se localiza a Fábrica, local em que farão um protesto pacífico pedindo sua urgente reabertura, com a produção imediata de quadrigêmeos Adrianos.
Diante de tais fatos, evidentes é claro, pude fazer-me de cego, mas com uma confirmação oficial meus olhos se abrem para um mundo caótico e em declínio. Os desenhos animados deixaram rapidamente de serem animados e os botos-cor-de-rosa estão cada dia mais azul; as aves de rapina afogaram-se nos oceanos e a Bjork anunciou sua aposentadoria por invalidez mental. A pobre também está com uma laringite permanente.
Até o exato momento, eu e todos os seres humanos do planeta aguardamos por uma nota oficial da Fábrica, que apazigúe nossos batimentos cardíacos e nos possibilite retornar a nossa vida cotidiana e nem sempre bela, mas nunca tão infeliz.
Finalizo este escrito com um suspiro.
(suspiro)

João Aparecido Maria (désolé)