domingo, 10 de janeiro de 2016

No que me falta, uma catuaba, por favor


Oi. Pensei em lhe dizer algumas coisas. Por isto fiz o óbvio. Tranquei-me no quarto, cobri o espelho, apaguei a luz, e lhe disse para eu ouvir: Até lhe conhecer eu era um. Eu era um até saber que namoro é mais complicado que essas imagens que a gente pinta de adolescente. Eu era um enquanto achava que beijo é só beijo, aqui e ali é só beijo. Eu era um até descobrir que você chega da rua, me beija, e tem sempre gosto de bala de cereja. Da última vez foi aqui no rosto, o beijo sem gosto. Que difícil beijo na bochecha, eu disse. Eu era um até o dia que dei pra você. E apesar de serem estes os verbos, dar, comer... eu era um até descobrir que de algum jeito a gente se dava um para o outro. Eu era um, sozinho, dormindo abraçado a sua regata vermelha. É só uma regata sem ouvidos, não adianta chamar ao pé do tecido, você não volta. Eu era um até descobrir que aquele filtro de sonhos pendurado na parede, estava retendo sonhos, prendendo-os em seus fios trançados, porque só podia... só passa pesadelo. Não me olha desse jeito porque eu tenho vergonha, eu disse. Você não tem vergonha na cara? Eu disse. Eu era um até amarrar meu burro em você. Eu era um sentado numa mesa de bar, sendo o filho da puta que aprendi a ser com você. Eu era um aqui reunido, na congregação, com o álcool, para bater um papo. No que me falta, uma catuaba, por favor. Com gelo, pra eu e ela, a catuaba, bater um papo cuca fresca. Eu era um até descobrir a catuaba. Virei num gole só. Moral da história: Amarrei meu burro num cubo de gelo. Derreteu e agora estou livre.


           
31.12.2015
(Texto escrito a pedido de um amigo.)

sábado, 2 de janeiro de 2016

Olhar de aprendiz


santo andré, 23 de março de 2015.



são todas tantas muitas

as ideias que se cruzam, na roda.

o que é coletivo?, como ser mais coletivo?... ah, quem dera a vida porta afora fosse assim.

debater o coletivo, é debater sobre si sem esquecer o outro.

a gente ao menos tenta.