Ontem me peguei numa querência
urgente, dessas que precisam ser cumpridas de imediato, queria eu arrumar o meu
entorno, uma tentativa de ver ao redor certinho e me sentir... certinho por
dentro. E resolvi colocar porta afora do meu quarto, dentro de uma caixa, o que
não mais me servia – a coleção de quase todas as edições da Revista MTV, a Enciclopédia
Larousse Cultural e um monte outro de revistas outras, livros pré-vestibular,
livros de ficções que não lerei, etc. Os dispensados estão até agora na porta do
meu quarto, esperando um carro que os leve ao sebo mais próximo. É uma pilha
enorme, precisa de um carro! Coisas outras anotadas em papeis, folders de peças
que detestei e outras coisas e muito mais que não me lembro, joguei fora.
Comecei então a catalogar a
bagunça que restou. Meus escritos de quinze, dezesseis anos, escritos em folhas
muitas tipo folha de papel sulfite, folha de guardanapo, pedaço de caixa de
sapato, guardei. Nunca tenho coragem de lê-los, mas os guardo por achar que
ainda faz sentido manter esse primeiro impulso de escrita, quando tinha a
necessidade de preencher qualquer papel que via ‘virgem’ em minha frente. Isto,
é coisa dentro.
Consegui eliminar duas caixas e
as outras organizei embaixo da minha cama, com etiquetas identificando o que
tinha dentro: agenda 2012, 2013, 2014; diários antigos, que ao guardar junto
com o diário de 2014, me fez ver uma linha do tempo cruzar o espaço do quarto
em um segundo, o que deu tontura, e me fez perguntar neste período, o que teve sentido e o que não teve – aí logo em seguida tive ódio mortal de mim mesmo, por
ter dado de ‘presente consolo’ um diário de 2010/2011 para meu ex-namorado, ‘você
vai se sentir melhor ao ver que essas dores passam’, disse eu, em uma das
cartas que enviei com um buquê de rosas colombianas embrulhadas em filme
transparente com um laço de ráfia, um calendário com as datas que seriam
importantes para nós e os dias marcados com um x em que eu esperaria por ele em
um ponto da cidade que fora importante para nós, para mim. Identifiquei coisas
com o nome ‘escritos antigos’, CDs, Lego – não consigo me desfazer das pecinhas – , cadernos de
desenho antigos, fichário escolar do ensino médio (só um), quatro edições da
Revista MTV que guardei, apostilas de violão, manuais e cabos do computador,
manuais de outros aparelhos, entre outras coisas, e entre outros escritos que
detalho de diferentes formas – antigos, retalhos, na pasta, no caderno, ideias,
organização do que voa pela cabeça, etc. Não mexi numa caixa com roupas que
guardo para usar como figurino – incluindo um vestido que já usei várias vezes –
e outra caixa com papeis que sei quase todos o que são – dois anos de núcleo de
dramaturgia dá pra juntar muita papelada. Consegui até ontem esquematizar que
tudo referente ao teatro ficará em pastas vermelhas, o que for do Gororoba em
pastas verdes e o que for dos estudos espíritas em pastas azuis; coisas de médico
em pastas transparentes, documentos em pastas amarelas. E tudo também etiquetado, sei lá, foi um surto de organização como o de um dos maridos da
Dona Flor – o vivo, chatinho, não o Vadinho.
Coisas fora. E continuo dentro
desorganizado, meio Vadinho. Talvez seja eu um tipo de HD incorrigível,
riscado, com dados perdidos que vez ou muitas se mistura com um dado atual e
vira um dado mágico, tentando ganhar vida no tabuleiro do mundo real.