sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Os Dias

Dia 25 se aproxima assim como o dia de amanhã se aproxima com o de hoje. Os dias não tentam ficar mais próximos uns dos outros porque estão perfeitamente alinhados, estruturados... Se bem que às vezes parecem tão curtos - como se quisessem que o tempo passasse o quanto antes para ver o dia de dois dias depois. Outros parecem longos... Como se quisessem distância.
Os dias são como nós? Ou nós somos os dias? O que seriam dos dias sem nós?
Seriam somente dias não vividos. Dias nem sequer passados.

Dia que não se foi. Dia que não vem.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A.A. (?)

Texto escrito na praça Buenos Aires, em 20 de outubro deste ano, 2009.

Há três dias me deparei com a verdade? Há três dias, tão estranhos, descubro, a cada minuto que passa, que o amo ainda mais?
Eu sou um refém?
Há três longos dias me faço perguntas? Que resposta eu busco? Existe, nisso, alguma verdade? E a mentira, onde está? Porque ela há.
De volta a praça Buenos Aires. Meu refúgio há muito tempo. Um alívio, pequeno, mas um alívio: não é como se eu não andasse; eu ando, e tudo acontece. Acontece a dor, a alegria, a ilusão e o firmamento de alguma coisa. Então, pode ser, já que o parece, de esta coisa não ser ilusão. 0,0000001%.
Vi e existe um conflito, enorme, entre o que vi e perguntar sobre o visto. Nem sempre é verdade o que a gente vê?
O susto. Susto de perceber que alguém o ama, e consegue ser fiel, não lhe tendo, não sendo o seu, não correspondendo pelo seu, vivendo sem o seu... algo de seu, num firmamento tão firme quanto o céu.
0,0000001%. É uma vitória. Por que desistir? Por que ter medo da dor? Será que você tem medo de me machucar? Pensou?
1%

domingo, 9 de agosto de 2009

Coisas que passam longe de um astronauta abitolado

Lá vai, sem título mesmo. A pergunta é ‘o que eu quero ser quando crescer?’. A minha pergunta é: será que um dia vou crescer? Porque isso, digo esta, pergunta, recai sobre outra – na verdade, inventa uma pergunta com muito sentido: será, na verdade, o que é crescer? E pior – por que pior? – o que é quando crescer? Não já estou crescendo?
Se crescendo é aprendendo (respondi o que é crescer sem querer)... se crescendo é aprendendo, estou crescendo, principalmente neste 2009, 24 anos mais noves meses de sons abafados vividos. É muita vida, graças a Deus, e se realmente eu tiver graças, assim não, assim, GRAÇAS, vou ter pela frente ainda o triplo, por que não o quádruplo ou cinco vezes isso de vida. Nossa, pensar no que eu quero ser quando crescer é pensar muito longe, ir para além dos horizontes e pessoas que conheço, então, como pensar nisso? Talvez imaginando.
Imagino-me feliz. Esta palavra aplicada em ‘eu’, tipo ‘eu feliz’ é o básico, são as vogais. Vogal feliz, se escreve assim: :). Pode parecer simples, mas é bastante complexo, porque o feliz envolve o ‘você’ feliz e ‘você’ são as pessoas que conheço hoje, que quero que estejam bem. Digo, feliz, bem é muito monótono, é como os casais que já se cansaram, se cansaram os que formam o casal, e se chamam: bem. O meu amor, minha vida, meu tesão já cansou. Agora é só bem. Se bem que pode não ser bem isso. Eu ainda não casei, não sei.
Ser feliz, além de ‘você’, quer dizer para mim coisas materiais, no sentido de matéria mesmo. Como o meu conjunto de canetinhas coloridas que minha mãe jogou fora quando eu era criança. Elas vinham dentro de um pino de boliche – nem sei se é assim que chama, esta foi a maior proximidade que tive com o boliche -, enfim, elas vinham dentro do pino de boliche, e cada canetinha era um mini-pino dentro do estojo grande-pino, até que a minha mãe jogou fora porque eu rabisquei uma camiseta amarela com elas, que já tinha estampas com rabiscos. Então eu apenas complementei. Este é um bem material do qual eu nunca vou esquecer.
Assim como nunca me esquecerei do joguinho com short e camiseta com desenhos de lápis coloridos, tudo azul, a camiseta tinha os desenhos de lápis coloridos, um ou outro virado de cabeça para baixo, ou cabeça para cima, é difícil entender qual o lado certo da cabeça de um lápis, quando todo lápis caminha com a cabeça. E se um lápis é algo tão complicado, imagine eu, quando crescer.
Sei que vou precisar casar para saber se bem é chato mesmo, ou se na verdade é fofo, e será que serei fofo, vou crescer para os lados e ficar fofo, bunda fofa, barriga fofa, pé fofo, um sofá? Quando eu crescer, sei, não quero ser um sofá, nem aquele que passa o domingo sobre o sofá, só no sofá, com a dispensa toda levada para cima do sofá no sábado à noite, e de lá direto para o sistema digestivo, que assiste a TV, por isso não digere direito.
Eu já tenho amigos, quero mais alguns, porque amigo é tudo de bom, eu topo até ficar sentado no sofá no domingo se tiver um amigo do lado. Amigo é pau para todo canal.
O dinheiro ainda não passou pela minha cabeça, acho então que a importância dele não é tão importante para estar à frente das outras importâncias. Então não vou rebaixar meus pensamentos até ele. Uma casa é importante, mas é mais importante a minha cara - :) - na casa.
Este texto é complicado porque meu desejo de quando crescer é ser feliz e talvez seja mais fácil ser astronauta do que ser feliz, o que demonstra que as pessoas estão, sim, se abitolando cada vez mais cedo. Pergunte a uma criança o que ela vai ser quando crescer, e várias vão responder “astronauta”; várias vão responder quando perguntar só a uma porque as pessoas estão ficando intrometidas cada vez mais cedo.Eu quero ser famoso, mas não porque quero que se intrometam em mim ou porque sei lá mais alguém quer isso, mas eu quero ser famoso por viver em harmonia comigo mesmo, e esta harmonia é o que eu quero ser quando crescer. Uma sinfonia perfeita de eu com o que eu quero ser e estarei sendo, mas é bem capaz que estar sendo seja sempre uma prerrogativa de querer ser, então estarei como agora, em dúvida se sou ídolo das células do meu corpo, se meus cromossomos estão felizes por mim, enfim, aí meu Deus, não sei bem, se bem que bem pode não ser bem bom quanto soa bem, mas se eu for a mesma pessoa que aproveita estas notas para escrever este texto, estes montes de papel, de árvores que a Kalunga derruba para fazer um simples comprovante de compra, bem, eu serei uma boa pessoa, e já estou sendo, e isto é o que quero ser quando crescer. Acho que vou dar um título.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Joana Macaqueia x Gugu Gagá Batista


Gugu Gagá Batista, 3 anos, é entrevistado por Maria Joana Macaqueia.

- Você é o segundo mais jovem bilionário da bolsa, atrás apenas do outro pequeno Michael Basarov.

- Ele tem muita sorte.

- Sim, mas conte para nós como conseguiu seu sétimo bilhão de dólares esse ano.

- Não. Não conto. Se eu contar não vou ter meu oitavo nunca. Todo mundo sabendo o que fazer.

- Sim, é verdade. Desculpe-me, mas como o senhor sabe, hoje você é notícia no mundo inteiro, não é mesmo?

- Por favor, não me chame de senhor. Sou um bebê. Sentiria-me um fracassado se aos, sei lá, sessenta anos de idade, tivesse apenas sete bilhões de dólares. Diga-me, como teria uma aposentadoria decente e viveria com o mínimo de conforto dessa forma?

- Eu não lhe digo nada, espertinho, você que é o entrevistado do dia. Mas mudando de assunto, já que você não quer nos revelar seu segredo dos bilhões, conte-me como você convenceu seus pais a lhe emanciparam tão jovem?

- Não foi muito difícil. Quando eu nasci os dois tinham doze anos de idade e agora querem aproveitar melhor o fim da sua pré-adolescência e nova adolescência.

- Eles são muitos corajosos.

- Eles são um tanto burros. Creio que eu seja adotado. É sério, eles ainda ganham mesada. Cem mil dólares por mês. É por isso que só usam aqueles All Stars furados.

- Eles hoje vivem com os pais, seus avós, que lhe dão essa mesada?

- Não, eu lhes dou a mesada. Meus avós, isso me dói muito... são assalariados.

- Bom, eu também sou assalariada.

- Tomei um antialérgico antes de sair de casa.

- Hã, tá, sei. Bom, você mora sozinho?

- Fala sério, eu sou um bebê. Você precisa entender isso definitivamente. O Dr. Cesário César Cézanne é meu oculista. Mando-lhe seu cartão assim que chegar em casa.

- Falando em casa...

- Contratei as melhores babás para cuidarem da minha educação. Todas feias, é claro, para não despertarem a atenção do meu namorado, que ainda não decidiu para que time torcer. É um lerdo, já tem quase dois anos.

- Mais jovem que você.

- Vamos mudar de assunto, anciã.

- Sim, claro. Por que você está mudando de Nova York?

- Não tem boas creches. E também não gosto de rap, hip hop, 50 Cent, essas coisas. Vou me mudar para um vilarejo europeu que comprei.

- Você comprou um vilarejo?

- Sim. Mônaco. E bonecas russas, são muitas divertidas. Comprei várias para me entreter quando estiver longe dos meus amigos.

- Fale-me dos seus amigos.

- São ótimos. E batalhadores. A maior parte deles não tem possibilidade de comprar fraudas como as minhas, bordadas com fio de prata. Fico me perguntando como eles conseguem ser tão alegres e felizes quando mal tem o que vestir. Viajar em classe executiva, não poder consumir o vinho feito com leite em pó das Vacas Camponeses do Vale Encantado, eles sofrem e eu os amo.

- E assim termino minha entrevista com o bebê bilionário, e esse grande coração, Gugu Gagá Batista.

- Obrigado, querida. Foi um prazer.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O dia 7 de janeiro

Meu dia:
Acordei às 9h - teoricamente. Fui comprar pão. Os comprei. Cinco pães por R$ 1,19, mas o cara me cobrou R$1,20. Filho-da-puta!
Tomei café-da-manhã: Leite com café solúvel "Pelé", pão francês com mussarela, uma torrada de pão de forma com "Ioiô cream", e outra com geléia "Homemade" sabor frutas vermelhas. Fiquei assistindo "As três espiãs demais" - que eu AMO!!!!!
Desci pra lavanderia, estendi um edredon do meu irmão no varal, estendi uma camiseta minha que estava de molho e subi para o meu quarto com um balde de roupa para passar.
Retirei o cocô do meu cachorro do quintal, lavei as mãos, peguei o umidificador de roupas com água e Confort (do verdinho), o ferro, a tábua e fui passar roupa, isso das 11h e pouquinho até às 14h e pouquinho - não era tanta roupa, é que sou lento para passar mesmo. Sorte que enquanto estava passando ninguém veio comprar sorvete Frutiquello.
Então, terminada a roupa, vendi sorvete e vendi sorvete. Algumas vezes. Comi um pedaço de goiabada para conseguir manter-me de pé. Angélica me liga, perguntando quando poderei estar na casa da Monique. Digo que 16h30.
Vou tomar banho e deixo o creme hidratante no cabelo. Enquanto estou no banho, a visita da vizinha grita querendo sorvete. Fica no vácuo, afinal não vou vender sorvete pelado. Seria até engraçado.
Visita da vizinha: Um picolé, por favor.
Ronny (pelado): Que sabor?
Saio do banho e vendo mais sorvetes.
Meu irmão chega em casa. Ele voltou ontem de viagem e tinha ido a rua pagar suas contas. Não foi trabalhar hoje.
Faço um hambúrguer de soja da Perdigão e como com meio copo de Dolly uva para descer mais rápido.
15h35. Mensagem de Adriano. Parabéns. Melhor, só ao vivo. Respondo.
A pia está cheia de louça. Lavo a louça.
Meu cachorro fez xixi embaixo da mesa da cozinha; passo água sanitária e vou varrer a casa - o faço quase em tempo recorde.
Troco de roupa para sair. Saio às 16h30 - horário em que deveria estar na casa da Monique.
O ônibus ainda não passou. Angélica me liga querendo saber onde estou. Digo que pegarei o trem para poder acelerar. Pego o trem, limpinho, tinha até sabão no chão. É a primeira vez que entro num trem que acaba de sair da faxina.
Chuva entrando pela janela do trem.
17h44min46s. Angélica me liga. "Cadê você?" Digo que estou na frente da UMC, na rua da Monique.
17h47. Mensagem no celular. Rê tá em casa. Me pergunto o que ela faz em casa tão cedo.
Chego lá. Casa da Monique. Feliz aniversário. Angélica - jogadora de rugby - me dá um abraço. Quase fico sem uma costela. Monique, magra, faz o mesmo - abraça - passando longe de quebrar-me qualquer coisa.
Saímos de carro, a caminho do shopping Bourbon. Estamos a alguns minutos no carro.
Monique: Que dia é hoje?
Angélica: Quarta-feira.
Monique: Meu Deus, hoje é o rodízio do carro.
Voltamos correndo. Deixamos o carro na garagem e nos dirigimos a shopping de ônibus D. Pedro II.
Chegamos no shopping. Passeio.
19h06min04s. (perante a porta do elevador, imponente como ela só) Madre me liga. Quer saber onde estou. Meu irmão saiu e não deixou nenhum recado sobre onde eu estava.
Comida. Meninas pedem porção em um restaurante cujo nome esqueci. Eu peço uma batata recheada no, acho que se chama Batata Recheada.
Papo vai, papo vem.
21h05min43s. Meu telefone toca. É Renatita Côrrea. Liga na minha casa e não estou lá. Parabéns e pede que eu ligue assim que chegar em casa. Beijo e tchau.
Volta para casa. Monique pega um ônibus. Eu e Angélica pegamos outro. Ouvimos Zé Ramalho em seu MP3 cor-de-rosa. Nos despedimos. Cada um parte em uma direção.
Entro no Perus. Duas mensagens para o celular da Renata. Peço que ela me escreva dizendo porque estava em casa. Chego em casa. Meu pai tá na sala, um tio saindo. Oi. Oi.
Subo. Tudo escuro. Olho pela janela, lá embaixo, a luz da lavanderia acesa. Desço; minha mãe deseja feliz aniversário e conta o seu dia e como lida com a patroa neourótica. Conta que ia comprar um bolo na Benjamim Abrahão. Deu sorte de não ter comprado. O trem estava tão cheio que só chegaria os farelos.
Diz que a patroa dela mandou um feijão-doce-verde-japonês pra mim. Vou olhar o tal feijão. Feijão Moyshia se não me engano. Validade: dezembro de 2007.
Faço um lanche: Leite com café solúvel Pelé, biscoito de farinha de mandioca e um bolo de não faço idéia que diabo, mas provavelmente farinha de mandioca. Coisas de Minas.
PC. Ainda não deu meia-noite. Fico assistindo um pouco de O Coronel e o Lobisomen.
00h02min. Entro na Internet. MSN. Ninguém online. Orkut. Fico feliz com todos os recados de parabéns. Pergunto cadê o da Fernanda. Pergunto-me se ela é realmente um a boa companheira de grupo. Julgo, condeno e enforco.
E-mail. O site da Curriculum.com me deseja parabéns. Estou emocionado.
E-mail da Renata. Ela conta porque estava em casa tão cedo e deseja saber como foi o meu dia. Estou escrevendo para ela como foi o meu dia. Viajei nas idéias e passei dos limites no que diz respeito a detalher.
1h22min17s. Um ligação no Celulano. Fernanda_casa. Parabéns. EBA, retiro a forca do pescoço dela.
1h32min. Este foi o meu dia 7. Na verdade, já é dia 8.
Finalizo por aqui. Não salvei nada do que escrevi e morro de medo de dar um blecaute e perder tudo isso. É melhor clicar em enviar.
Beijo, Rê.
;)
P.S.: Tenho certeza que não saí para a rua com o hidratante no cabelo, em algum momento que não me lembro qual o tirei. Creio.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Reflexão pós-Brokeback Mountain dublado


Não fazer o que está premeditado pelo destino (se assim posso dizer) pode ter graves consequências. Não mais ter chances de fazer, o tempo que foi vivido, mas não inspirado, expirado, suspirado.
Um desejo para o futuro? Ninguém deseja o fracasso. O insucesso profissional, o que é diante o insucesso de vida? Torna-se tão banal temer a escolha de um curso de graduação. É quase ridículo chorar a descoberta de que alguns anos foram gastos com um curso que não era exatamente o desejado. Não me vejo fazendo isso daqui a dez anos. Uma grande ideia relaxar e pensar "tudo bem, não faço ideia de que roupa vestirei daqui a dez anos".
Mas um insucesso de vida...
Dizer o que se deseja, sem medo da certeza de que é obviamente patético. Se-dafo. Flor-de-seda. Foda-se.
Tudo pode resultar em tantas todas as coisas, atingir tantos picos e fundos de grutas que... um "se"... um "se" é uma faca. Principalmente quando posto no que vê os olhos de... ?
Um "se"... um "se" é uma faca afiada, esperando a oportunidade para abandonar as aspas.