terça-feira, 28 de outubro de 2014

Riso ladeira abaixo (em Perus)


Perus como vejo da janela do quarto.

Segunda-feira, entre seis e quarenta e sete da manhã. Desço a ladeira para pegar o trem - acordei atrasado e não chegaria a aula na FEESP às nove se fosse de ônibus. Um senhor atravessa a rua em minha direção, rosto marcado, de sol a pique sem protetor solar, sotaque nordestino, um tanto incrementado de um paulistanês de certamente muito tempo de contato, um riso doce e ao mesmo tempo incrédulo. Está com o Jornal Agora na mão e me para e me diz o que está escrito aqui?, era o cantinho esquerdo da primeira página. Penso que deve não saber ler e leio em voz alta o título da matéria Nordestinos são atacados nas redes sociais. Fica claro que ele apenas queria compartilhar o que acabara de ler quando me aponta um trecho da matéria que diz Nordestino burro, vota na Dilma e aí vai para São Paulo em busca de uma vida melhor? Termino de ler a frase em voz alta, ele não comenta, mas ri um riso indignado, não amargo, mas doce como quem sabe-se superior a essa  pequenez de pensamento que permeia alguns de nós. Eu, tento o mesmo riso-doce-indignado que o dele, mas não consigo.

domingo, 19 de outubro de 2014

Sábado e hoje





Ontem precisava escrever, tirar o atraso do texto que às vezes me sufoca, por expectativas minhas de fazer direitinho, de corresponder a uma proximidade do real que pesquiso, enfim... Então, como preciso me centrar em escrever, acordei tarde, arrumei meu quarto, lavei minha roupa, me alimentei várias vezes ao longo do dia - mas com certa moderação -, tomei banho, guardei minha roupa lavada, passei o que estava muito amassado e também guardei. Achei que não tinha sentido limpar meu quarto e deixar o corredor na frente sujo então limpei também. Liguei o computador e li todas as notícias que me despertaram curiosidade - e sempre uma te leva a outra. Marquei com algumas pessoas de ir a um show hoje, que não sei se vou, e abri o word com o que já havia da Vida, o texto em questão. Li, reli e nada mais escrevi. Ouvi músicas, ensaiei começar qualquer novo rascunho e nenhuma linha nova surgiu. Resolvi que a coisa estava mecânica em excesso na frente do PC e salvei o texto no meu leitor digital, abri rascunhos perdidos em diversos cadernos sobre a cama e peguei outras folhas muitas para fazer rascunho. O sono chegou beirando às quatro da manhã, quando nada ainda tinha feito.
Então hoje, ao acordar meio-dia e em seguida tomar café, decidi que continuaria com a carpintaria da escrita. Listei as cenas que faltavam ser escritas, ordenando-as na ordem que imaginava ser a correta e passei a escrever uma a uma, dando baixa com um OK na listinha posta de lado. O trabalho rendeu bastante e agora já às cinco da tarde olho para o relógio do PC que acabo de ligar e estranho o sol ainda tão a pino e lembro que é o primeiro dia de horário de verão. A pouco meu pai e minha mãe acho que brigaram na cozinha e ela subiu as escadas gritando 'não dá para ficar com esse cu na cozinha'. Não entendi se falava com meu pai ou com o cachorro, mas depois entendi que era com o meu pai. Resolvi ignorar porque não sou casado com nenhum dos dois. Bem que eu queria ir na casa da Fêr e do Danilo tomar vinho e comer queijo, bem que eu queria realmente ir ao show que terá hoje no Ibirapuera, tudo depende de eu agora conseguir colocar todo o texto escrito no computador, corrigir, tomar banho e sair. Mas restam só duas horas e ainda tem exercícios da aula de amanhã na federação pra entregar e o trem da CPTM não está passando hoje, como em todos os domingos. Talvez tenha que terminar aqui em casa mesmo, e talvez encontre algum filme que me distraia desse momento em que me encontro... acho que estive bem neste fim de semana porque esqueci um pouco de mim e resolvo começar a próxima sexta no jongo ou em qualquer outro lugar me entorpecendo com qualquer coisa alcoólica.
Resolvo que vou pedir para a Fêr me ligar - a Oi bloqueou meu celular, apesar da minha conta estar paga - e pedir para dormir na casa dela. Só para dormir num lugar diferente, longe daqui, ou mais longe de mim.