domingo, 9 de agosto de 2009

Coisas que passam longe de um astronauta abitolado

Lá vai, sem título mesmo. A pergunta é ‘o que eu quero ser quando crescer?’. A minha pergunta é: será que um dia vou crescer? Porque isso, digo esta, pergunta, recai sobre outra – na verdade, inventa uma pergunta com muito sentido: será, na verdade, o que é crescer? E pior – por que pior? – o que é quando crescer? Não já estou crescendo?
Se crescendo é aprendendo (respondi o que é crescer sem querer)... se crescendo é aprendendo, estou crescendo, principalmente neste 2009, 24 anos mais noves meses de sons abafados vividos. É muita vida, graças a Deus, e se realmente eu tiver graças, assim não, assim, GRAÇAS, vou ter pela frente ainda o triplo, por que não o quádruplo ou cinco vezes isso de vida. Nossa, pensar no que eu quero ser quando crescer é pensar muito longe, ir para além dos horizontes e pessoas que conheço, então, como pensar nisso? Talvez imaginando.
Imagino-me feliz. Esta palavra aplicada em ‘eu’, tipo ‘eu feliz’ é o básico, são as vogais. Vogal feliz, se escreve assim: :). Pode parecer simples, mas é bastante complexo, porque o feliz envolve o ‘você’ feliz e ‘você’ são as pessoas que conheço hoje, que quero que estejam bem. Digo, feliz, bem é muito monótono, é como os casais que já se cansaram, se cansaram os que formam o casal, e se chamam: bem. O meu amor, minha vida, meu tesão já cansou. Agora é só bem. Se bem que pode não ser bem isso. Eu ainda não casei, não sei.
Ser feliz, além de ‘você’, quer dizer para mim coisas materiais, no sentido de matéria mesmo. Como o meu conjunto de canetinhas coloridas que minha mãe jogou fora quando eu era criança. Elas vinham dentro de um pino de boliche – nem sei se é assim que chama, esta foi a maior proximidade que tive com o boliche -, enfim, elas vinham dentro do pino de boliche, e cada canetinha era um mini-pino dentro do estojo grande-pino, até que a minha mãe jogou fora porque eu rabisquei uma camiseta amarela com elas, que já tinha estampas com rabiscos. Então eu apenas complementei. Este é um bem material do qual eu nunca vou esquecer.
Assim como nunca me esquecerei do joguinho com short e camiseta com desenhos de lápis coloridos, tudo azul, a camiseta tinha os desenhos de lápis coloridos, um ou outro virado de cabeça para baixo, ou cabeça para cima, é difícil entender qual o lado certo da cabeça de um lápis, quando todo lápis caminha com a cabeça. E se um lápis é algo tão complicado, imagine eu, quando crescer.
Sei que vou precisar casar para saber se bem é chato mesmo, ou se na verdade é fofo, e será que serei fofo, vou crescer para os lados e ficar fofo, bunda fofa, barriga fofa, pé fofo, um sofá? Quando eu crescer, sei, não quero ser um sofá, nem aquele que passa o domingo sobre o sofá, só no sofá, com a dispensa toda levada para cima do sofá no sábado à noite, e de lá direto para o sistema digestivo, que assiste a TV, por isso não digere direito.
Eu já tenho amigos, quero mais alguns, porque amigo é tudo de bom, eu topo até ficar sentado no sofá no domingo se tiver um amigo do lado. Amigo é pau para todo canal.
O dinheiro ainda não passou pela minha cabeça, acho então que a importância dele não é tão importante para estar à frente das outras importâncias. Então não vou rebaixar meus pensamentos até ele. Uma casa é importante, mas é mais importante a minha cara - :) - na casa.
Este texto é complicado porque meu desejo de quando crescer é ser feliz e talvez seja mais fácil ser astronauta do que ser feliz, o que demonstra que as pessoas estão, sim, se abitolando cada vez mais cedo. Pergunte a uma criança o que ela vai ser quando crescer, e várias vão responder “astronauta”; várias vão responder quando perguntar só a uma porque as pessoas estão ficando intrometidas cada vez mais cedo.Eu quero ser famoso, mas não porque quero que se intrometam em mim ou porque sei lá mais alguém quer isso, mas eu quero ser famoso por viver em harmonia comigo mesmo, e esta harmonia é o que eu quero ser quando crescer. Uma sinfonia perfeita de eu com o que eu quero ser e estarei sendo, mas é bem capaz que estar sendo seja sempre uma prerrogativa de querer ser, então estarei como agora, em dúvida se sou ídolo das células do meu corpo, se meus cromossomos estão felizes por mim, enfim, aí meu Deus, não sei bem, se bem que bem pode não ser bem bom quanto soa bem, mas se eu for a mesma pessoa que aproveita estas notas para escrever este texto, estes montes de papel, de árvores que a Kalunga derruba para fazer um simples comprovante de compra, bem, eu serei uma boa pessoa, e já estou sendo, e isto é o que quero ser quando crescer. Acho que vou dar um título.

Nenhum comentário: