domingo, 20 de julho de 2014

Que Não Lhe Conto... este domingo!

A FALTA

Passei o dia perdido sobre o que fazer, perdido sobre o que fazer primeiro, o que deixar para depois e me cansei de tanto nada fazer, perdido em ideias que não se concluem. Ontem não foi diferente, mas muito de ontem tem a ver com as coisas daqui de casa, essas coisas de sempre, de pai e mãe, das paredes e tudo que há dentro.
Hoje, quase cinco da tarde, tomo banho. Me visto com a mesma roupa que me vesti ontem pra sair e logo em seguida tirei porque decidi ficar, bebo café com pão e manteiga, carrego a bolsa de livro, agenda, carteira, garrafa d'água e os ingressos que comprei para ir ao teatro, pensando que a peça que veria seria uma - e ontem lendo a sinopse descobri que comprei os ingressos da peça errada que não parece nada interessante. Parece que Deus e Esperança também não irão, terão uma DR hoje.
Cinco e meia. Coloco comida para o meu cachorro e saio pela porta dos fundos. Atravesso o corredor, a porta da sala ficou aberta. Entro, tranco, volto para a porta de trás, destranco, saio e tranco de novo (não tenho a chave da porta da frente). Saio. Dois minutos andando, um carro de polícia, quatro policiais e três jovens. Um carro preto parado, os garotos de mãos para trás, talvez já algemados. Algumas pessoas olham pela janela, um outro carro de polícia passa devagar e sigo descendo essa ladeira infinita daqui de casa, Perus, esse bairro montanhoso. Se fosse na Itália seria um pequeno vilarejo de casas rústicas entre as colinas. Aqui é um bairro periférico de casas inacabadas, com uma vista muito bonita, mas sem cartões postais.
Cinco e quarenta e estou no ponto. Penso que a Fernanda pode estar num casamento chato - ela iria em um hoje, por isso não lhe comprei ingressos; certamente irá atender o telefone. Não atende. Espero o ônibus cinco minutos e começo a me perguntar o que estou fazendo ali, saindo de casa em cima da hora para ver uma peça chata quando tem uma muito melhor acontecendo perto do metrô Carrão. Se não dá para chegar no Anhangabaú, muito menos consigo chegar no Carrão. E se chegar no Anhangabaú, correndo, esbaforido para ver uma peça que não me parece boa... para que construir esse estresse? Pego a avenida no sentido contrário dos carros, entro na primeira rua, desço-a, passa o carro da polícia e pego o telefone para disfarçar - não que estivesse fugindo da polícia, mas às vezes quando alguém olha para mim pego o telefone e finjo que estou falando com outro alguém - e como a polícia sempre passa olhando... talvez tivessem olhado para o meu casaco de tecido quase vinil roxo que quase nunca lavo e minhas luvas de lã rasgadas e me achado estranho - se bem que acho que não olharam nada, mas não resisto e depois que o carro passa ainda continuo com o celular na orelha à toa (está frio, estava esquentando a orelha).
Chego em casa, um folheto de pizzaria. Subindo o escadão - esse bairro montanhoso! - havia pensando em pedir pizza e acho que é um sinal do destino sobre o meu jantar. Destranco as duas portas - a dos fundos e a da sala, onde meu cachorro estava dormindo no sofá. Subo as escadas, faço xixi e coloco o moletom e a camiseta que estava vestindo antes. Pego os ingressos na bolsa, rasgo, coloco no saco de coisas que tenho jogado fora e está atrás da porta. Penso que nos conhecemos - assim, de sentar e conversar, além de nos ver - num dia em que eu tinha acabado perder o horário de uma peça no CCBB para a qual tinha comprado ingresso uma semana antes. Agora escrevendo, lembro de alguns pensamentos que tive nesse dia e me perco de novo sobre essas coisas de tempo.
São seis horas e trinta e oito. Termino este texto e estou ligando na pizzaria.

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