terça-feira, 28 de outubro de 2014

Riso ladeira abaixo (em Perus)


Perus como vejo da janela do quarto.

Segunda-feira, entre seis e quarenta e sete da manhã. Desço a ladeira para pegar o trem - acordei atrasado e não chegaria a aula na FEESP às nove se fosse de ônibus. Um senhor atravessa a rua em minha direção, rosto marcado, de sol a pique sem protetor solar, sotaque nordestino, um tanto incrementado de um paulistanês de certamente muito tempo de contato, um riso doce e ao mesmo tempo incrédulo. Está com o Jornal Agora na mão e me para e me diz o que está escrito aqui?, era o cantinho esquerdo da primeira página. Penso que deve não saber ler e leio em voz alta o título da matéria Nordestinos são atacados nas redes sociais. Fica claro que ele apenas queria compartilhar o que acabara de ler quando me aponta um trecho da matéria que diz Nordestino burro, vota na Dilma e aí vai para São Paulo em busca de uma vida melhor? Termino de ler a frase em voz alta, ele não comenta, mas ri um riso indignado, não amargo, mas doce como quem sabe-se superior a essa  pequenez de pensamento que permeia alguns de nós. Eu, tento o mesmo riso-doce-indignado que o dele, mas não consigo.

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