segunda-feira, 1 de novembro de 2010

À espera de uma segunda-feira que proclame o fim do ano

(Texto escrito durante o primeiro turno das eleições)

As crises de pânico têm me afligido cada vez mais. É como se o medo se personificasse e descesse cada vez mais fundo, chegando a uma escadaria onde os degraus se perdem no escuro e os pés descem vacilantes em direção ao breu-frio. Isto não diz sobre a previsível propaganda eleitoral da qual não podemos ser poupados.

Não temos rotas de fuga, nem frestas de janela para poder respirar. Nosso senso comum de inteligência é violentamente atacado por uma falta de moral que faz da puta mais puta uma Nossa Senhora, e esta, esteja onde estiver, certamente deve ter optado pelas regalias de um fone de ouvido e seu MP3 no talo aos pedidos advindos dos mais diversos oratórios, de políticos ajoelhados, clamando por cargos públicos em troca de gordas quantias de dízimo numa caixinha de igreja. Isto, nomeiam fé.

O ano, se todos formos pensar, passou rápido demais. E não é pra menos. É ano de campanha e qualquer tipo de preocupação com o bem estar, aproveitamento das horas vagas e menos tensão no trabalho, seja lá de que células vêm, jaz, pois em primeiro instante atacado, soterrado e expurgado. Assim, está o cidadão frágil diante da TV, sem reação enquanto ditas quaisquer serra sem gota de anestesia os neurônios do já abortado ser homem que um dia ali viveu, abrindo espaçamentos para ideias desnutridas, raticidas e pervertidas.

É então que numa segunda-feira ressuscita parte do ser, graças a ideia fixa de um neurônio sobrevivente ao massacre, que até então pensava delirar sobre virgens putas aureoladas num céu risonho e límpido.

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