domingo, 27 de abril de 2008

AS PEQUENAS PALAVRAS DO AMAR (Ato 2)

ATO 2 - AMORA (e período insosso)

As crianças subiam todos os dias na grade que cercava a escola para pegá-las no pé. A amoreira ficava no parque ao lado da escola. E o ritual recreativo, crianças felizes por pegar amora no pé, se repetia todos os dias na hora do intervalo no pré. É claro que não havia amora ao alcance todos os dias, e eu tinha a impressão de ver algumas crianças preocupadas em deixar uma das pequenas recém-nascidas e verdes ali, para que nunca faltassem amoras.
Parecia divertida até mesmo a busca frustrada por amoras. O que importava não eram elas; era subir no gradil e pôr os braços para fora da escola. Porque havia galhos com amoras que pendiam para dentro do jardim, mas esses galhos não interessavam tanto, sendo rapidamente vencidos. O que interessava era esticar o braço para alcançar as amoras que estavam mais longe. A diversão, a conquista que cada dia se tornava mais difícil.
Eu acompanhava com os olhos, mas nunca subi no gradil em busca de amoras. Há alguns dias, em certo lugar, descobri uma amoreira junto ao muro e apanhei por curiosidade uma amora que estava no chão. Mas aquelas amoras do lado de fora do gradil eu nunca toquei.
Como eu nunca lhe toquei. Como as minhas mãos nunca chegaram perto das suas. E agora você está mais longe. Como as amoras no pé. Acaba de anoitecer e eu peço um raio de sol.

P.S.: Faltou curiosidade?

Ronny Leal

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