segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

No Chuveiro, na Cama e Calendário - Breves Impressões Fixas na Memória

 


Cena. Sob os olhos cerrados, ondas – a imensidão de mar que cabe à minha vista. O corpo parece ser ninado, num vai e vem sem fim – faz barulho na rocha, faz barulho na areia, é música em si mesma, a onda que se dissolve no mar.

As horas diferem do cotidiano, e não é que não passam – é que passam sem pressa de conta, a fazer de conta que dois e dois pode ser seis, por que não?

Calendário de 2014, sobre a mesa. Escolhi um com fotos, que me parecia menos frio que um calendário comum. Janeiro, Canoa Quebrada, Ceará – e canoas à beira-mar. Fevereiro, Elevador Lacerda, Bahia – e mar fazendo fundo aos prédios de Salvador. Março, Estação da Luz – e o azul céu de SP, nem sempre tão azul. Abril, Pão-de-açúcar, Rio de Janeiro – azul mar e embarcações. Maio, Ponte JK de Brasília e as ondas de concreto, marejo do Lago que não vai muito de cá pra lá, nem de lá pra cá. Junho, Jacaraípe, Espírito Santo; Julho, Igreja da Sé, Olinda, Pernambuco; Agosto, Praia do Gunga, Alagoas – benditas tantas águas no meu calendário, a fazer contornos em terras tão belas. Setembro, Praia de Boiçucanga, São Sebastião – e é ali tão perto, e é tão surpresa essa foto. Outubro, Canoa Quebrada, Ceará, Novembro das Cataratas do Iguaçu e Dezembro, Jenipabu, Rio Grande do Norte, em toda costa, norte-sul-norte, tem mar o bastante para histórias sem fim – e foto nenhuma é tão imensa quanto o cheiro, o som, o calor, o vento, o sol, a cor – pobre lápis de cor da infância, como era ingênuo em suas tentativas de imitar o mar em desenhos.

Demoro no chuveiro, deito e me reviro na cama, cansado e com sono, mas me reviro buscando ondas nos lençóis. De olhos fechados, elas são claras em minha mente - me esqueço do fim do banho, me esqueço da hora de acordar, viajo nas ondas que cabem em minha vista fechada, acariciando-me, lembranças cheias, mais que recortes do calendário. Sobre Camburizinho, sei que tão cedo não esqueço o mar.

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