Cena. Sob os olhos cerrados, ondas – a imensidão de mar que cabe à minha vista. O corpo parece ser ninado, num vai e vem sem fim – faz barulho na rocha, faz barulho na areia, é música em si mesma, a onda que se dissolve no mar.
As horas diferem do
cotidiano, e não é que não passam – é que passam sem pressa de conta, a fazer
de conta que dois e dois pode ser seis, por que não?
Calendário de 2014, sobre a
mesa. Escolhi um com fotos, que me parecia menos frio que um calendário comum. Janeiro,
Canoa Quebrada, Ceará – e canoas à beira-mar. Fevereiro, Elevador Lacerda,
Bahia – e mar fazendo fundo aos prédios de Salvador. Março, Estação da Luz – e
o azul céu de SP, nem sempre tão azul. Abril, Pão-de-açúcar, Rio de Janeiro – azul
mar e embarcações. Maio, Ponte JK de Brasília e as ondas de concreto, marejo do
Lago que não vai muito de cá pra lá, nem de lá pra cá. Junho, Jacaraípe, Espírito
Santo; Julho, Igreja da Sé, Olinda, Pernambuco; Agosto, Praia do Gunga, Alagoas
– benditas tantas águas no meu calendário, a fazer contornos em terras tão belas.
Setembro, Praia de Boiçucanga, São Sebastião – e é ali tão perto, e é tão
surpresa essa foto. Outubro, Canoa Quebrada, Ceará, Novembro das Cataratas do
Iguaçu e Dezembro, Jenipabu, Rio Grande do Norte, em toda costa,
norte-sul-norte, tem mar o bastante para histórias sem fim – e foto nenhuma é tão
imensa quanto o cheiro, o som, o calor, o vento, o sol, a cor – pobre lápis de
cor da infância, como era ingênuo em suas tentativas de imitar o mar em desenhos.
Demoro no chuveiro, deito e
me reviro na cama, cansado e com sono, mas me reviro buscando ondas nos lençóis.
De olhos fechados, elas são claras em minha mente - me esqueço do fim do banho,
me esqueço da hora de acordar, viajo nas ondas que cabem em minha vista fechada,
acariciando-me, lembranças cheias, mais que recortes do calendário. Sobre
Camburizinho, sei que tão cedo não esqueço o mar.
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